Thursday, April 13, 2006

Ah, se eu soubesse...

Hoje seria um dia feliz. Tinha tomado um daqueles banhos deliciosos que nos fazem lavar a alma depois da sua caminhada diária, numa rua cercada de árvores. O aroma do novo dia começando havia lhe dado um gás extra para enfrentar o longo dia. Maria Luiza, ou Malu (como gostava que os amigos, e apenas os amigos, a chamassem), estava pressentindo que aquele dia seria especial, apesar de nada de concreto indicar isto. O dia estava como todos os outros, era apenas Malu que queria que aquele fosse diferente. E foi.
Logo assim que chegou ao trabalho ela encontrou em cima da sua -muito- organizada mesa uma carta, anônima. Dizia apenas que encontrasse com ele (ou ela) na rua Santo Agostinho em frente à padaria Q'Pão. Achou estranho, perguntou a todos na redação quem tinha deixado aquela carta em cima da sua mesa, mas ninguém soube responder. Mesmo assim, por causa da animação que acordou com ela, resolveu ir. Ah, Maria Luiza, você não deveria ter ido.
Chegando à padaria, resolveu que iria tomar um cafezinho, afinal de contas, àquela hora ela já estava ficando com fome, pois acordara muito cedo. "Deve ser alguma coisa muito boa!", pensou ela, entusiasmada. Não sabia o que esperar, nem quem esperar, mas, segundo a nota de rodapé da carta anônima, a pessoa saberia encontrá-la. Repentinamente Malu sente uma mão leve, muito leve, em seus ombros e se assusta:
- Sou eu, Maria Luiza, sua mãe! - disse a dona das mãos suaves.
- Quê?!?! Quem é a senhora?! - perguntou, assustadíssima, Malu.
- Sua mãe, pelamordedeus! Vem cá me dar um abraço!
- A senhora só pode estar louca! - esbravejava a agora não mais animada Malu - Minha mãezinha está em casa, provavelmente cozinhando nosso almoço a esta hora.
- Não, Malu, EU sou sua mãe, Jurema é apenas a moça que te criou quando você nasceu e eu te entreguei nos seus braços...
- Não me chame de Malu! Eu nem conheço a senhora! Que estória mais absurda, meu Deus! Dá licença, minha senhora!
- Não, Maria Luiza, não vá! - suplicou a senhora, aos prantos.
O dia tão maravilhoso que Maria tinha imaginado foi desmoronando. Chorou copiosamente durante horas a fio, e só depois de muito pensar retornou à redação. Pegou a carta, releu-a, e decidiu rasgá-la. Foi até o banheiro, lavou muito bem o seu rosto e foi pra casa, decidida a exigir explicações de Jurema.
O caminho foi tortuoso, pensava sem parar naquela mulher. Realmente, agora lhe parecia que a mulher guardava semelhanças com ela mesma, e ficou mais atormentada. Como assim, minha mãe?, pensou. Depois de algum tempo, lá estava Malu em casa. Quando entrou na cozinha deu de cara com sua "mãe", ou Jurema, sabe-se lá. Foi quando Malu respirou profundamente e, na decisão mais importante da sua vida, perguntou:
- O que temos pro almoço hoje, Mãe?

Texto por Lucia Silva

2 Comments:

Blogger Marcelo Diniz said...

final perfeito. o texto todo poderia ser mais curto, mais seco. creio que o final teria mais impacto

4:05 PM  
Anonymous Anonymous said...

"na decisão mais importante da sua vida"

sem essa frase o final seria mais impactante ainda.
Mas é só uma opinião.

4:40 PM  

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